domingo, 13 de junho de 2010

Crónicas de uma viagem menos boa


Na quarta dia 9 de Junho partimos para León com o dificil objectivo de realizar cerca de 320Km de León-Santiago em 3 dias. Os preparativos não foram os melhores e desde cedo nos apercebemos disso. Na minha opinião cometemos 3 grandes erros:

1- Deixamos as reservas de hotel/albergue para a ultima hora o que nos obrigou a definir como objectivo do primeiro dia quase 150km a terminarem em "La Portela Valcarce".

2- Não estivemos atentos ao tempo que ia fazer e por isso não estavamos preparados com roupa adequada nem suficiente.

3- No grupo nem todos apresentavam uma condição fisica equivalente. Este facto acabou por ganhar importância perante a ocorrência dos dois anteriores.


Na quinta-feira dia 10 começamos a pedalar cerca das 10:00 horas (hora Espanhola) pois ainda tivemos que entregar o carro alugado. Nas primeiras horas tudo correu bem apesar do frio e da chuva miudinha. Depois do almoço tardio e à medida que iamos subindo aos 1500 metros é que as coisas pioravam. A chuva aumentava ao ponto de magoar quando batia na cara, a temperatura baixou aos 4 graus e havia quem já apresentasse indicios de hipotermia.


Cerca dos 90Km, depois de fazermos grande parte da 1ª descida parámos num café. O frio era insuportável e não conseguiamos parar de tremer. No local havia outros grupos a desistir e a chamar taxis. Enquanto uns beberam leite quente (1,5 euros) eu bebi um chã (2 euros - que roubo). Aproveitamos para torcer a água da roupa e nos secar um pouco junto duma lareira e do aquecedor. Com as perspectivas meteorologicas a piorar e perante cerca de 50km que nos faltavam para terminar a etapa, parte do grupo chamou o carro de apoio e foi directo para o Hotel.


Os que optaram por seguir tiveram de tudo um pouco. Condições climatéricas ainda mais adversas, caminhos totalmente enlameados, quebras de tensão arterial e um esforço para terminar que já à muito tinha ultrapassado o "espirito de sacrificio". Mesmo assim lá terminamos o primeiro dia por volta das 22:30 da noite e com cerca de 150km rolados. Para o dia seguinte já só pediamos que o tempo melhorasse um bocadinho.

No segundo dia pretendiamos realizar cerca de 75km até Portomarin e começamos a pedalar um pouco mais cedo, por volta das 9:00. Começamos logo a subir e a subir e a subir. O tempo apesar de não ser o ideal estava bastante melhor que no dia anterior à tarde. Quando chegamos ao topo da subida começaram novamente as dificuldades provocadas pelo mau tempo. Se a subir o frio e a chuva incomodam é a descer que se tornam realmente letais ao ponto de não se sentirem os pés, as mãos e o corpo tremer tanto que nem conseguimos controlar a bicicleta. Os joelhos doiam do frio e as paragens eram autenticas torturas... O que pagariamos por umas calças e por uns sapatos e impermeável secos. Parar e deixar arrefecer as poucas partes do corpo que ainda estavam quentes era uma ideia que nos assustava.

Quando chegamos a Triacastela, além do frio, da chuva, do sacrificio fisico e psicológico e do cansaço havia ainda problemas mecânicos nas bicicletas nomeadamente a falta de travões provocados pelo desgaste das descidas e das condições climatéricas.

Tudo isto acabou por resultar na decisão precipitada (ou não!?) de voltarmos para Braga. Neste momento, no conforto do lar é fácil ver que em "Triacastela" perante o cenário anteriormente descrito, podiamos ter optado por outras alternativas como por exemplo:

- ter feito parte do percurso por estrada
- ter passado o percurso de 3 para 4 dias
- ter tentado terminar o 2º dia e depois decidia-se mais a "frio"
- ter ido de Triacastela até Portomarin de carro e continuado no dia seguinte
- etc.

A verdade é que no "calor" do momento a decisão foi regressar a Braga. Por um lado é compreensivel a frustação de não termos atingido os nossos objectivos mas por outro fizemos a parte mais dificil do caminho em condições totalmente adversas e com um primeiro dia de 150km que são um registo impressionante (não só de sacrificio mas tambem de estupidez).

Penso que falo em nome do grupo se disser que aprendemos que não devemos facilitar na preparação logistica, fisica e psicológica duma aventura deste género.

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